Pois o importante
não é o que colocamos
no balaio das nossas vidas,
mas como colocamos.
incompletude
c o m p l e t a
Ela vinha apressada, tendo tomado a estrada depois de sair de sua casa em Campinas, lugar onde vive com seus cachorros, seu universo onírico, sua paz, suas tintas acrílicas e pincéis, os papéis que retira de revistas e de outros documentos que lhe caem às mãos, e suas chapas de MDF – as quais mal dão conta da inventividade da artista que aumenta, junta, diminui ou amplia essas superfícies lisas de madeira, a depender do projeto e da própria imaginação.
as marcas de sua feitura,
realizadas a partir da densidade das várias camadas de tinta acrílica – que cuidadosamente criam e recriam novas e inesperadas situações –, das imperfeições dos cortes da madeira, das colagens que entram em meio ao processo, na maior parte das vezes sem motivo claro ou pré-determinado.
I N C O M P L E T A
Pois há muito de completude numa pintura expressamente feita para ser e restar incompleta… Às vezes a figura nasce como homem, mas se transforma numa mulher, alguns detalhes desimportantes viram centrais, assim como as palavras muitas vezes laterais se materializam enquanto argumentos, quando não se comportam como desafios ou tinta, cor.
C O M P L E T U D E
Nos seus trabalhos, figuras humanas, animais e arquiteturas afetivas contracenam com uma palheta de cores fortes, quentes e primárias – o preto, o vermelho, o verde, o rosa claro, o laranja, o amarelo e o roxo. Elas foram herdadas da prática de produzir cartazes e outdoors que aprendeu em seu curso de publicidade. Mas viram aqui outra linguagem, mais desordenada e fluida.
as palavras
fazem parte da estrutura da obra de Vânia
também
Pretensamente fáceis, sem nuances ou ambiguidade – como aliás determinaria qualquer manual da profissão –, elas se imiscuem no processo criativo da artista e ajudam a narrar uma história. Por vezes, várias histórias..
E assim, até porque Vânia não dá nomes às suas exposições, eu a batizei, por conta e risco próprios. Nessa mostra, e como sempre ocorre no universo pictórico da artista, podemos prefigurar várias narrativas; todas abertas, incompletas. Pois, afinal, cabe ao público completá-las.
trechos do texto de Lilia Moritz Shcwarz